Li recentemente no Batista Mineiro, um artigo do Pr. Joaquim Ferreira Damasceno, intitulado “Alimentando Ovelhas ou Divertindo Bodes”. Acredito verdadeiramente no zelo do referido Pastor, e seu desejo ardente de levar as coisas de Deus a sério, e considero isso louvável.
Quando cursava o Seminário, fui aluno do sábio Pastor Bitencourt, e dele sempre ouvi uma frase que marcou a minha vida: “o meu negócio é Bíblia e feliz é o homem que faz da Bíblia o seu negócio”. Por essa razão, sempre procuro examinar o que a Bíblia diz, de fato, a respeito de qualquer situação, buscando sempre esvaziar-me de mim mesmo para ater-me apenas ao que a Palavra diz, e jamais tentar adaptá-la ao que penso. Nós é que precisamos nos adaptar à Palavra, e não o contrário.
Partindo desse pressuposto, tenho que dizer de minha preocupação com nossos cultos, com o que dizem nossos líderes, com o que tem se ensinado e praticado por aí no que diz respeito à música, louvor, adoração e práticas de culto. Tenho ficado estarrecido com a falta de informação, e com a quantidade de “baboseiras” que tenho ouvido e lido. Um completo “cuspir” de falta de conhecimento, equívocos e mais equívocos, e ninguém há que atente para Oséias 4.6 (O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento). E o mais triste, é que a grande maioria do ensinamento equivocado que nossas igrejas têm recebido parte daqueles que deveriam estar ensinando apenas a Palavra, e deixando de lado suas opiniões e preferências.
No artigo citado, li com tristeza, por exemplo, a respeito do Cantor Cristão, tão defendido pelos seus amantes, e atacado por aqueles que não o têm como cancioneiro preferencial. Uns desejam sua abolição, ignorando que ali existem hinos que abençoaram e abençoam até hoje, escritos por homens e mulheres de Deus, e que devem sim serem usados em nossos cultos. Outros, entretanto, o defendem com unhas e dentes, o idolatram e até o consideram tão santo quanto a Palavra de Deus, e ignoram que nesse hinário também existem heresias, como o hino 114 que afirma que Jesus habitará novamente a terra e que nós habitaremos aqui, reinando com ele, marcha de guerra como o 112, vários hinos nacionais, como o nº 6, que é o hino nacional da Inglaterra “Deus, Salve a Rainha”, o 258, que é o hino da Alemanha, músicas mundanas, como o 484, e uma enorme gama de erros teológicos, como por exemplo o hino n.º 11, que diz na 4ª estrofe que os filhos de Deus são réus, e isso não é bíblico (Rm 8.1; Jo 8.24), o hino 36 que diz que “fomos adotados pelo Filho”, quando na verdade fomos adotados pelo Pai (1Jo 3.1), o hino 88 que diz na 3ª estrofe que Jesus passou por grande escravidão, o que não tem sustentação bíblica, o hino 116 que pede na 4ª estrofe para que Deus derrame sobre nós, seu povo, as mesmas maravilhas dos outros povos, e outros tantos, que não vou citar por não ser esse o nosso foco no momento.
Li ainda, com tristeza, a respeito da bateria chamada ironicamente de “Nossa Senhora da Bateria”, sem que o amado autor se preocupasse em notar que pouco antes disse que esta está no lugar do púlpito, da mesa da ceia e do Piano, o que sugere, em primeiro lugar que esses três, o púlpito, a mesa e o piano, podem ser considerados “nossa senhora do púlpito, da mesa ou do piano” (questão de interpretação de texto que pode ser confirmada por qualquer entendido). E em segundo lugar, a constatação mais preocupante, de que o autor do artigo ignora que o piano não foi produzido para uso eclesiástico, e que assim como a bateria, teve sua origem na música “mundana”, tendo sido inventado durante o período clássico por Bartolomeo Cristofori, músico secular da corte, empregado do Príncipe Ferdinando de Medici. Ignora que foi justamente buscando volume e dinâmica dos sons, coisa que o predecessor do piano, o cravo, não oferecia, que Cristofori construiu em 1700 o Gravicembalo Col Piano e Forte, conhecido hoje como piano. Ignora ainda que o piano é tão utilizado nas igreja quanto no meio musical secular, especialmente no Jazz, e inclusive em shows de rock.
Causou-me ainda estarrecimento a afirmação do autor que afirma não crer que “o verdadeiro salvo sinta-se bem em um culto da forma como está sendo realizado hoje em nossas igrejas” e que “se Jesus viesse hoje em carne visitar a sua igreja e vendo cheia destes instrumentos de perturbação e esses cara pintadas sambando no lugar do púlpito, com o pretexto de estar pregando o evangelho de forma atualizada (...) jogaria para fora todos esses instrumentos mundanos”. E pasmo fiquei quando fui chamado pelo autor de “irreverente desrespeitador do recinto sagrado”. Aliás, se biblicamente o templo somos nós, a igreja somos nós, então o recinto sagrado só pode ser o coração onde habita o Espírito de Deus, e mais uma vez nosso autor mostra-se desinformado, escravo do legado romano que vê o prédio como sendo a igreja. Ainda mais abaixo o autor volta a confirmar sua desinformação alegando que o uso de bateria, teatro e coreografia é um “procedimento leviano na casa de Deus”. E eu afirmo novamente, baseado nos ensinamentos da Palavra do Senhor: Casa de Deus é o coração onde habita o Espírito Santo.
Quero concluir este “direito de resposta”, lembrando que, assim como o nobre Pastor, também me preocupo com alguns rumos que algumas igrejas têm tomado, com algumas práticas anti-bíblicas que alguns têm adotado e com o futuro de nossas igrejas. Batista que sou, seguidor dos princípios sagrados e inegociáveis da Palavra de Deus, também discordo de muita coisa, mas precisamos entender que a única autoridade para dizer se algo é correto ou não é a Palavra de Deus. Nossos líderes precisam entender isso. Nossos Pastores precisam se dobrar a isso. Não podemos de forma alguma basear nossos cultos em nossa preferência, em nosso gosto pessoal. Precisamos nos ater ao que diz a Palavra, e sermos mais diligentes na busca pelo conhecimento, não nos deixando levar por todo vento de doutrina (Ef 4.14). Que nós, Pastores e Líderes atentemos para Malaquias 2.7 que diz “Pois os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é o mensageiro do Senhor dos exércitos”. Que Deus tenha misericórdia de nós!