terça-feira, 8 de junho de 2010

IDENTIDADE BATISTA...

Tenho andado muito preocupado com o posicionamento de alguns irmãos a respeito da identidade batista. Muito se tem falado, muito se tem escrito, mas pouco se tem acertado. Dizem que estamos perdendo nossa identidade, que já não se conhecem as igrejas, que nossos cultos não mais são “cultos batistas”. Usam como argumento as palavras “ordem” e “reverência”. De fato, no documento “Princípios Batistas” de nossa Convenção Batista Brasileira, encontramos algo muito claro a esse respeito:

2- Culto


O culto a Deus, pessoal ou coletivo, é a expressão mais elevada da fé e devoção cristã. É supremo tanto em privilégio quanto em dever. Os batistas enfrentam uma necessidade urgente de melhorar a qualidade do seu culto, a fim de experimentarem coletivamente uma renovação de fé, esperança e amor, como resultado da comunhão com o Deus supremo.


O culto deve ser coerente com a natureza de Deus, na sua santidade: uma experiência, portanto, de adoração e confissão que se expressa com temor e humildade. O culto não é mera forma e ritual, mas uma experiência com o Deus vivo, através da meditação e da entrega pessoal. Não é simplesmente um serviço religioso, mas comunhão com Deus na realidade do louvor, na sinceridade do amor e na beleza da santidade.


O culto torna-se significativo quando se combinam, com reverência e ordem, a inspiração da presença de Deus, a proclamação do evangelho, a liberdade e a atuação do Espírito. O resultado de tal culto será uma consciência mais profunda da santidade, majestade e graça de Deus, maior devoção e mais completa dedicação à vontade de Deus.


O culto – que envolve uma experiência de comunhão com o Deus vivo e santo – exige uma apreciação maior sobre a reverência e a ordem, a confissão e a humildade, a consciência da santidade, majestade, graça e propósito de Deus (...).

Interessante que a palavra “liberdade” (grifos meus) expressa no documento nunca é lembrada pelos defensores do “culto-missa” e que, além disso, tais defensores desconhecem o significado das palavras reverência e ordem. Por isso, resolvi recorrer ao dicionário:

Reverência: Homenagem. Um gesto de reconhecimento para com alguém. Respeito de humildade para com outra pessoa. Respeito pelas coisas sagradas; veneração; inclinação do corpo para saudar qualquer pessoa;


Ordem: Ato de comandar; dar uma ordem a alguém; ato de arrumar, arranjar as coisas; organização; conjunto de leis e regras da sociedade;

Partindo desses pressupostos, cabe-me afirmar que, tendo nossos cultos organização e sentido, baseados nas regras ditadas pela Palavra de Deus (ordem), e tendo como objetivo principal venerar, homenagear e reconhecer a Soberania de Deus (reverência), estamos totalmente de acordo com a Palavra de Deus, independente das expressões utilizadas como forma de adoração por parte de nossos irmãos, como palmas, danças, teatro, estilos musicais diversos, levantar de mãos, dar glórias a Deus, orar no monte, ungir com óleo, falar em cura e libertação, expulsão de demônios, visões, revelação, etc. Todas essas práticas têm respaldo na Palavra de Deus e, se são feitas observando-se as regras de reverência e ordem, não vejo nelas nada que abale a identidade da igreja Batista, que tem a Bíblia como sua única regra de fé e prática.

Mas se não bastassem essas conclusões que são óbvias e inquestionáveis, ainda existe uma afirmação na nossa “Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira” que, ou não é conhecida de muitos de nossos líderes, ou então tais líderes tentam esconde-la assim como tentam esconder alguns princípios bíblicos em nome da tal “identidade batista”. Nossa Declaração diz:

XV- Liberdade Religiosa


Deus e somente Deus é o Senhor da consciência.1 A liberdade religiosa é um dos direitos fundamentais do homem, inerente à sua natureza moral e espiritual.2 Por força dessa natureza, a liberdade religiosa não deve sofrer ingerência de qualquer poder humano.3 Cada pessoa tem o direito de cultuar a Deus, segundo os ditames de sua consciência, livre de coações de qualquer espécie (...).

Ora, se tenho o direito de cultuar a Deus, segundo os ditames da minha consciência, e se o Senhor da minha consciência é única e exclusivamente o Senhor Deus, por que as igrejas insistem em querer ditar o estilo do culto? Porque insistem em querer proibir práticas que estão respaldadas na Palavra do Senhor, e que minha consciência, que é comandada pelo próprio Deus, me impele a realizar? Não seria o caso, então, de mudar a nossa Declaração doutrinária, para que a mesma se adapte à triste verdade que queremos esconder? E que verdade seria essa? – alguém me indaga – Que boa parte de nossas práticas está baseada no gosto pessoal de nossa liderança e não nos princípios claros e evidentes da Palavra de Deus.

Ou assumimos quem somos, e colocamos em prática o que acreditamos, ou precisamos mudar nossas afirmações e admitir que a Bíblia, na verdade, não é nossa única regra de fé e prática, mas apenas um livro complementar que auxilia, às vezes, nos ditames de nossa vontade “soberana”.

Sejamos coerentes! Sejamos batistas! Pratiquemos aquilo que pregamos, ou então mudemos a placa de nossa igreja, porque ser Batista é seguir fielmente os preceitos da Palavra de Deus, e nunca os preceitos de homens.

Edilson Araújo Santiago.