sábado, 18 de junho de 2011

Presidente ou Presidenta. Uma questão de português

Tenho acompanhado as notícias envolvendo a Presidente Dilma Rousseff. Os jornais de maior circulação têm usado o termo Presidente. O Planalto, por sua vez, adotou o vocábulo Presidenta e, por incrível que pareça, isso tem gerado grande discussão. Uma simples pesquisa no Google pode retornar milhares de páginas trazendo o questionamento. Por esta razão, decidi escrever este pequeno artigo, como contribuição para aqueles que desejam dirimir a questão.

Segundo o professor Claudio Moreno, Doutor em Letras, o termo Presidenta está correto. Moreno afirma que os dicionários admitem Presidenta, e que adotar a expressão é só questão de tempo. Já para o professor Pasquale Cipro Neto, normalmente não há variação de gênero nas palavras terminadas em ‘nte. Veja bem, normalmente não há. Mas existem excessões. O professor Adalberto J. Kaspary, autor de "Português para Profissionais", discorda do uso de Presidenta. Segundo ele, de acordo com a Academia das Ciências de Lisboa, há uma conotação pejorativa no vocábulo.

Podemos perceber, com isso, que mesmo os grandes nomes ainda não entraram em acordo sobre o termo. Mas o que diz o português?

O particípio presente, ou particípio ativo é uma derivação de um verbo, no tempo presente, encontrada em algumas línguas, entre elas, o italiano, o espanhol e o português. Tem origem latina. Em português, o particípio presente tem a função de adjetivo ou de substantivo. Ou seja, a derivação de um verbo para o particípio presente, origina um adjetivo ou um substantivo. Normalmente os particípios presentes terminam em “ante”, “ente” ou “inte”. Por exemplo: o particípio presente de cantar é cantante, de adolescer é adolescente, de contribuir é contribuinte.

Nesse caso, o particípio presente do verbo presidir deverá ser Presidente, e não Presidenta, pois isso fugiria à regra da terminação (ante, ente ou inte).

Entretanto, boa parte dos entendidos da gramática considera que o particípio presente não existe mais. E que essas palavras são simplesmente substantivos ou adjetivos, e não necessariamente derivações verbais. Para esses, então, não há incoerência no termo Presidenta, pois a regra, no caso não se aplicaria ou, no máximo, o termo seria uma das muitas exceções de regras que existem na língua portuguesa, como é o caso da palavra Governanta, que é usada com frequência. Se aplicássemos a regra ao pé da letra, uma casa teria uma governante, e não uma governanta. Logo, o uso acaba por tornar a terminação correta.

Precisamos lembrar que a língua falada é que dá origem à língua escrita. Por essa razão, muitos termos, com o passar dos anos, vão caindo em desuso e sendo substituídos por outros termos.

Então, concluímos que as duas formas são adequadas, tanto Presidente como Presidenta.

O que não pode ser admitida é a exigência da Exma. Senhora Dilma de ser chamada de Presidenta, como tem acontecido. Se as duas formas estão corretas, cabe a quem fala ou escreve optar pelo termo, não a quem lê ou ouve. Nesse ponto nossa Digníssima Presidenta se equivoca, ao impor a terminação feminina. Equívoco que inclusive, gerou uma situação desagradável no Senado Federal. A Senadora Marta Suplicy, no dia 08 de fevereiro deste ano, pediu uma questão de ordem, quando o Sen. José Sarney utilizou o termo Presidente: “Presidente, não! Presidenta!”, disse Marta. Sabiamente o experiente senador Sarney respondeu à sua questão de ordem: “As duas colocações estão corretas, vou usar a forma francesa madame e Le président”. Boa oportunidade perdeu a Senadora de ficar calada. Aliás, como ela tem perdido essas oportunidades! Assim como muitos "entendidos" de português também tem perdido, quando publicam suas opiniões sobre a questão, sem o menor embasamento teórico, apenas porque ouviram dizer. Precisamos estudar mais o bom e velho português.